Esta é seguramente uma questão em que todos os professores que utilizam Second Life já se depararam, ao constatar como, inconscientemente, o seu discurso por vezes se torna hermético e incompreensível para o interlocutor que não domina a linguagem.
Os quatro conselhos de Essid, considerados como essenciais para que a comunicação se processe:
"Evite usar o termo 'residente' com os seus colegas!
Eu gosto dessa expressão quando falo ou escrevo com quem já conhece o SL, porque ela explica bem a experiência da imersão e a sensação de que o metaverso é um lugar. Mas 'residente' pode ter uma conotação com algum tipo de doença mental, para quem não é habituado ao termo.
Evite gírias e modismos quando está online!
'Rez' e 'prim' e 'lag' dificilmente serão expliacados aos novatos. Mas as ideias que temos sobre o que é este mundo virtual podem ser ainda mais nocivas quando mal utilizadas. Uma vez com os meus alunos, depois de uma visita, dirigi-me aos anfitriões e escrevi para eles que "os meus alunos que estiveram neste evento não voltarão a ver SL como um jogo". Todos os avatares perto de mim - antigos residentes de SL - leram a palavra "jogo" e atacaram-me verbalmente. Fiquei deveras furioso, talvez a ocasião em que fiquei mais zangado em SL.
Evite tanto o sensacionalismo quanto a negação!
Os conteúdos indesejáveis ou desagradáveis, bem como os problemas técnicos existem ao mesmo tempo que as experiências educativas. Toda a Internet vive nessa dialética. Eu explico isso aos meus colegas e admito que o SL é ainda uma tecnologia recente.
Evite o mito da inevitabilidade!
Gostei muito de ouvir da boca do nosso anfitrião na última mesa-redonda, um bibliotecário notável que trabalha in-world, que não devemos andar por aí assumindo que SL e outros mundos serão bem sucedidos rápida e facilmente. Por sua utilização nos ser intuitiva, não devemos concluir que também o é para os outros..."
As curiosas palavras de Joe Essid trazem-me à memória um livro que li há alguns anos atrás, sobre a vida de Steve Jobs, e em que o visionário de Silicon Valley brilhantemente defendia a Apple, "evagelizando" os utilizadores de MS-DOS e, mais tarde, de MS Windows.
No entanto, tudo o que para Jobs era evidente (e como era - e ainda é - como é bom ouvi-lo no lançamento de um novo gadget, como I-Phone) nem sempre era claro para os ouvintes! Não por não concordarem com as suas ideias, mas simplesmente porque, muitas das vezes, nem sequer entendiam o que Jobs dizia... (lembram-se de um super-projeto de nome Next? Talvez por isso os projetos de Jobs sempre foram fracassos comerciais).
Ou seja, é gratificante ouvir alguém falar apaixonadamente daquilo que gosta, é fantástico falar com emoção daquilo que se preza, mas, sem algum cuidado, a emoção e a paixão atrapalham muito.
Moderação, modéstia e clareza são bons conselhos deixados por Joe Essid aos utilizadores e defensores de Second Life!
Origem: Discursos D'Outro Mundo("Blogue" do Professor Paulo Frias, Universidade do Porto)
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