Uma vela para a paz é o slogan da campanha: um barco num cruzeiro virtual pelo fim de todas as guerras. No Second Life. Uma de muitas manifestações do lado virtual, centradas em assuntos do mundo real.
Desde Fevereiro e até Abril, o Falcão Maltês, uma embarcação virtual criada no Second Life, navega entre os portos italianos, levando a sua mensagem de paz. Uma exposição de arte serve como pólo de atracção, mas os blocos coloridos no convés não são parte da mostra: representam locais onde os conflitos sociais e a guerra deixam cicatrizes. Demasiados, como se pode comprovar, olhando o mapa também colocado no convés. Pontos que remetem para páginas da web convencional, onde se completa a informação sobre os motivos desta campanha no Second Life: a procura de soluções não violentas que permitam criar um mundo onde os nossos filhos terão de habitar.
Ancorado em Nova Sicilia, durante o mês de Março, o Falcão Maltês não é a única prova de que no Second Life as pessoas se preocupam com os problemas do mundo físico, jogando por terra a idéia de que os mundos virtuais são exclusivamente uma forma de escapismo. A rapidez com que a comunidade organizou uma manifestação contra os acontecimentos em Burma, há meses, prova que o Second Life é um bom ambiente condutor de causas sociais. Depois de lançado o primeiro alerta, mais de 500 pessoas se juntaram ao longo do metaverso, em manifestações, e num cordão humano, nas horas seguintes. Este número de avatares é considerado alto em termos de SL.
Memória dos genocídios

As grandes causas internacionais não estão esquecidas no mundo virtual, e existe mesmo um espaço que agrega associações diversas. Por exemplo, a Commonwealth Island, onde grupos de defesa dos direitos humanos, a organização Greenpeace e outros de defesa do ambiente têm um espaço de apresentação das causas que defendem. Vários outros grupos espalham-se por cabanas, que podem ocupar o visitante interessado em descobrir as atividades destes projetos tão díspares, desde a proteção dos desabrigados mundiais até a libertação do Tibet.
A cooperação e a solidariedade não são palavras vãs no Second Life. Que o diga a American Cancer Society, que montou uma sede permanente no mundo virtual, onde organiza diversas atividades e mantém espaços destinados tanto aos que não venceram ainda a batalha, mas também aos que sobreviveram. Fotografias de pessoas reais e de seus avatares, sugerem a ampla faixa etária dos que acabam por trocar experiências sobre a doença usando o mundo virtual.
Unidos contra o câncer

Segundo os responsáveis da Association for International Cancer Research, "o Second Life é uma excelente forma de contato com uma nova geração de apoiadores. Contamos no mundo virtual com centenas de pessoas que promovem ativamente a AICR, usando t-shirts, participando de nossas atividades e espalhando a mensagem. Em Dezembro de 2007, participamos da 'Ajuda de Caridade no Second Life'. Foi o primeiro do seu tipo, reunimos fundos para investigação vital na área e ao mesmo tempo nos divertimos."
Os projetos futuros da AICR passam pela realização de concertos ao vivo no Second Life e também a organização de todo o tipo de eventos que possam reunir pessoas capazes de depositar alguns linden dólares na conta da associação. Esse dinheiro é depois canalizado para projetos de investigação na luta contra o câncer. A associação lançou em 2007 apoio para 80 projetos ao redor do mundo e pretende aumentar esse número em 2008.
Greve ganha prêmio
A solidariedade no Second Life surge em diferentes níveis, e podemos mesmo falar de solidariedade ativa. Quando a IBM Itália colocou em causa os direitos dos seus nove mil trabalhadores, a greve organizada estendeu-se para o SL, onde os cerca de dois mil funcionários da IBM fizeram uma greve de 12 horas nos espaços virtuais da companhia, em Setembro de 2007. O resultado no mundo real foi significativo: o responsável pelo confronto demitiu-se de suas funções, logo em seguida, e as negociações com o sindicato foram retomadas. Foi a primeira vez que uma greve se estendeu a um mundo virtual. E foi isso mesmo que levou a UNI - Union Network International, a rede internacional de sindicatos, e o sindicato italiano RSU a ganharem um prêmio atribuído pelo governo francês, o NetXplorateur, que foi entregue na França, em 14 de Fevereiro, no primeiro NetXplorateur Fórum.
O NetXplorateur 100 pretende salientar a importância dos projetos de Internet mais importantes e de maior impacto econômico e social. Com a primeira edição este ano, o prêmio selecionou uma centena de pioneiros ao redor do mundo, criadores de projetos que representam o futuro da Web e do mundo digital, como um todo. Dessa centena, foram escolhidos os dez finais, incluindo os exemplos de solidariedade provenientes do Second Life, refletindo ali o que acontece no mundo real.
Escrito por José Antunes, para o Expresso Clix.
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