sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Dependência do mundo virtual pode causar danos físicos e emocionais

A partir do momento em que o internauta inverte os valores sociais e passa horas conectado ao invés de se dedicar às suas atividades e aos compromissos do dia-a-dia, é sinal de que algo não vai bem.

Um mundo onde as risadas são expressadas em letras e o que se é pode ser resumido em um mero apelido. Um mundo onde não faz calor, frio, nem chove ou cai neve. Um ambiente interativo, fascinante, repleto de atrativos, de pessoas e de histórias, um mundo virtual. Assim é a internet: um universo ilimitado de opções e coisas boas, idealizado para encurtar as distâncias e ampliar o acesso à informação. Dados coletados pelo Instituto de Pesquisas Datafolha apontam que os brasileiros conectados à internet somam hoje quase 50 milhões.

Em busca de diversão ou de novos contatos, o internauta tem a seu dispor uma gama de possibilidades e uma ferramenta que parece desafiar os limites geográficos e substituir as antigas possibilidades de entretenimento. Mas embora imprescindível no contexto das novas tecnologias, para algumas pessoas a rede assumiu um papel maior do que deveria. Passou a ser a prioridade no dia-a-dia de gente que não consegue imaginar a vida longe de um monitor. A partir do momento em que o internauta inverte os valores sociais e passa horas conectado ao invés de se dedicar às suas atividades e aos compromissos do dia-a-dia, é sinal de que algo não vai bem.

O vício em internet, assim como muitos outros vícios chamados de dependências comportamentais, pode causar danos físicos e emocionais ao portador do problema. Em algumas clínicas da China, onde cerca de 13% dos internautas têm problema de dependência à rede, segundo a Associação de Internautas Adolescentes da China, o tratamento inclui acompanhamento psicológico, remédios e até choques elétricos. Recentemente, a morte de um chinês que sofreu um infarto após passar três dias jogando pela internet reforçou ainda mais a situação alarmante em que se encontra o país.

Ana Paula Thomaz, 21, chegou a ficar 16 horas on-line e só notou que os acessos estavam excessivos quando conseguiu um emprego e não pôde acessar a rede com tanta freqüência. “Só pensava em chegar em casa e ligar o computador. Quando conversei com meus amigos sobre isso eles me falaram que eu estava viciada. Hoje estou fazendo faculdade e entro na internet para fazer pesquisas.”

Fernanda Soares, 20, que morava nos Estados Unidos - país com maior número de internautas do mundo, cerca de 210 milhões - deixava de passear e fazer as refeições com a família para ficar conectada à internet. “Era uma forma de manter contato com meus amigos do Brasil. Uma vez fiquei sem ligar o computador durante um dia e passei mal.” Hoje, Fernanda trabalha na Rádio Canção Nova e usufrui da rede com outra motivação. “Antes, internet era sinônimo de distração e contato com meus amigos. Hoje, é um meio de evangelização.” O universitário Yuri Alves Monteiro, 19, costumava passar o dia todo conectado à internet para postar fotos e acompanhar os comentários dos amigos. Conheceu muitas pessoas pela internet, mas hoje tem buscado ficar menos tempo conectado.

Para a psicóloga Ludimila Lima das Neves, a partir do momento em que o internauta percebe que desligar o computador não está sendo uma tarefa tão fácil quanto antes, é preciso que ele faça uma auto-avaliação no sentido de detectar o que realmente lhe falta. “Se a internet passa a ser utilizada para suprir um vazio ou carência que existe na vida real, seu uso pode ser nocivo”, diz a psicóloga. “Muitos se instalam nessa zona de conforto porque a vida real não é manipulável como o mundo virtual. É preciso encarar a realidade, investir em relacionamentos concretos e descobrir por si mesmo que a vida real é mais encantadora que os deslumbres da internet.”

Escrito por Thaysi Santos, da Canção Nova.
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