sexta-feira, 16 de março de 2007

Brasileiros ganham dinheiro no Second Life

Eles constroem edifícios, fabricam sapatos e alugam terrenos para reforçar orçamento. Cientes de que é possível faturar, eles investem tempo e dinheiro no mundo virtual.

Tuba Baxter (foto ao lado), um tubarão dos mais modernos, concorda em dar uma entrevista sobre os brasileiros que ganham dinheiro no programa on-line Second Life. Mas ele quer que o bate-papo seja em sua loja, a Donna Lulu, onde vende sapatos e jóias -- tudo virtual, é claro. Ao entrar no estabelecimento, a reportagem do G1 encontra uma loja bem-decorada, com paredes vermelhas, iluminação, gesso no teto, objetos em exposição e caixas empilhadas, todas com estampa de zebra. Se a intenção do microempresário era usar o espaço físico para impressionar, ele chegou bem perto disso.

O tubarão -- na vida real Fernando Noll, 29 anos, de Pernambuco -- faz parte de um grupo de brasileiros que aposta no Second Life para ganhar dinheiro. Eles não pensam necessariamente em juntar US$ 1 milhão, como aconteceu com a empresária chinesa Anshe Chung, mas todos seguem uma filosofia parecida: unir o útil ao agradável. Em vez de só navegar e se comunicar com outras pessoas, como acontece no Orkut, os fãs de entretenimento virtual querem agora ganhar dinheiro. Clique aqui para ver uma galeria de fotos desses empreendimentos.

Representante comercial de empresas de calçados, Tuba achou que poderia levar sua experiência ao mundo virtual, onde comercializa sapatos -- nossa entrevista na loja da ilha SP Jardins, uma área nobre do Second Life, foi interrompida algumas vezes por clientes em busca de suas sandálias. Quando questionado se já ganha dinheiro, ele responde: “considerando que só trabalho aqui aos finais de semana e abri as lojas há menos de um mês, acho que sim”. Em cerca de 20 dias, ele calcula que embolsou o equivalente a R$ 600.

Embolsar, no programa, é maneira de falar. Apesar de poder transformar a moeda local “linden dollar” em dinheiro vivo, a estratégia dos internautas entrevistados pelo G1 é reinvestir sempre, para fazer o montante crescer. Tuba, que aprendeu a construir edifícios e objetos no Second Life, diz não ter investido “nenhum centavo”: usou seu trabalho para arrecadar lindens e construir seu (ainda modesto) patrimônio virtual, comprando os terrenos e a matéria-prima para os sapatos, por exemplo. Antes de a entrevista começar, ele pediu cinco minutos para “fazer o piso de uma loja” que estava terminando. “Não há maneira fácil para se ganhar dinheiro, não é?”, perguntou, já em seu horário de descanso.

Os usuários do Second Life realizam transações com o dinheiro virtual, via boleto bancário (com a moeda de cada país, no mundo off-line) ou via cartão de crédito internacional -- esta última alternativa possibilita a conversão de dólares dos Estados Unidos em lindens. Por enquanto, ainda não é possível comprar oficialmente o dinheiro do Second Life com reais (R$) ou outras moedas.

Matemática

A construção que Tuba fazia antes da conversa com o G1 era para Unger Felix (foto ao lado), um dos donos da badalada ilha SP Jardins, que contratou os serviços do tubarão. Unger -- ou Jorge Henrique Singh, 40 anos, de São Paulo -- resolveu investir no programa comprando com sete amigos duas ilhas de 65 mil m2 e algumas construções. Preço da brincadeira: R$ 20 mil, em dinheiro vivo. O retorno, esperam, virá em 18 meses, já que ainda há muito investimento em estrutura para fazer. “Ainda não ganhamos, estamos no vermelho”, afirma o avatar.

Apesar da conta negativa, o publicitário já utiliza jargões corporativos nas falas de Unger. “Preferimos não divulgar receitas e despesas, por questões comerciais de concorrência”, explica, antes de brincar: “desculpe a demora [na resposta], estava consultando nosso departamento jurídico”.

O grupo de investidores espera ganhar dinheiro locando espaços para empreendedores virtuais -- como uma loja de surfe que ocupa a ilha -- e também para os reais, que pretendem divulgar seus produtos no universo paralelo. Hoje, eles têm 50 clientes, considerando também aqueles que pagam aluguel para morar nos jardins.

Unger passa diariamente dez horas conectado, também trabalha na vida real e, por isso, dorme apenas quatro horas por noite. “Hoje, a dificuldade para lucrar é a mesma nos dois mundos: tem de ter muito trabalho, planejamento e união de esforços. Não há distinção”, conta. O sacrifício, garante, vai valer a pena: “acredito em uma explosão nos sistemas de interação em 3D e estamos fazendo uma aposta no futuro”.

Tax free

Isabelle Luiza (foto ao lado), que aos finais de semana vive 30 horas encarnada no avatar Belle Druart, concorda que ganhar dinheiro é tão difícil na vida virtual quanto na real. “Só tem sido mais fácil no Second Life porque não tem um governo sugando grande parte de seu faturamento com impostos injustos”, conta a internauta de 29 anos, funcionária de uma LAN house em Belo Horizonte. Na realidade virtual, Luiza descobriu que leva jeito para os negócios: usou seus freebies (espécie de brindes) para alugar uma loja de produtos populares, começou a construir e, então, partiu para a comercialização de edifícios.

“Hoje, o faturamento médio da Bellinda construtora está em torno de 20 mil lindens por mês”, conta a empresária que trabalha há três meses no universo paralelo -- atualmente, essa quantia equivale a US$ 74, ou R$ 150. Luiza ainda não pensa em abandonar o emprego de sua primeira vida para se dedicar inteiramente ao da segunda, mas considera que essa é uma possibilidade para alguns usuários. “Tudo é possível no Second Life, basta se dedicar.”

por Juliana Carpanez
Fonte: G1.

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