quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Brasileiro testa preconceito de usuários do Second Life

Estudante goiano escolhe ser cadeirante na 'segunda vida' e enfrenta discriminação.

Corpos torneados, pele perfeita e cabelos lisos. O mundo virtual do Second Life (SL) é o paraíso para quem quer ter o corpo perfeito em alguns cliques. As exceções, como o avatar Pisano Smit, são raras. Por trás do cadeirante virtual tatuado e sempre disposto a um bom papo, está o estudante de arquitetura Rafael Pisano, de 20 anos (no detalhe da foto ao lado). Ele não é deficiente físico na vida real.

Morador de Goiânia, Pisano decidiu encarar a cadeira de rodas no jogo para testar o comportamento dos outros usuários e descobrir como são as dificuldades enfrentadas pelos deficientes da vida real. Nesta entrevista, ele conta ao estadao.com.br as experiências como um portador de necessidades especiais no metaverso.

O que levou você a escolher ser um cadeirante no mundo virtual?
Bom, entrar no Second Life foi ao acaso. Eu procurava um jogo online e encontrei o SL. Mas ser cadeirante foi justamente por notar que as pessoas lá dentro usam a seu favor a possibilidade de ser tudo o que um dia elas sonharam, como ter casas, carros, belos corpos, etc. Eu quis expressar meu desprendimento e testar o que um cadeirante real passa em sua vida. Quis sentir as dificuldades encontradas, os preconceitos sofridos.

Nessa sua jornada dentro do SL, você sofreu algum tipo de preconceito?
Olha, preconceitos diretos, não. Mas já fui muito chamado de impotente, incapaz, paralítico, em momentos de raiva de outros jogadores.

Você não acha isso uma forma de preconceito?
Bom, digamos que é um preconceito momentâneo. A pessoa perde a paciência com algo e expressa seus preconceitos. É diferente do que acontece quando se tem um avatar obeso ou feio.

Para você o preconceito contra os feios e obesos é maior no metaverso?
Sim. (Enfático) No SL, os avatares paralíticos (eu, no caso) são bem aceitos na maioria das vezes.

E você adota algum procedimento, como não voar (no Second Life é normal avatares se locomoverem voando)?
Sim, evito ao máximo fazer o que não se faz na vida real. Voar, por exemplo, usar poderes ou magias, armas ou algo que faça apologia, como às drogas - o que é muito deliberado no SL. É claro que, como faz parte da diversão, muitas vezes uso várias das ferramentas e as diversas possibilidades que o jogo oferece.

Quanto tempo você passa no SL?
Em média, de 6 a 10 horas por dia.

Como você equilibra a sua vida real com a virtual?
Eu estudo na parte da manhã. Em alguns dias da semana, minhas as aulas começam mais cedo ou terminam mais cedo. Assim, entro sempre após chegar da faculdade. E prolongo até o fim do dia ou até um compromisso mais importante.

Mas por que tanto tempo conectado ao mundo virtual?
Porque faço parte de um grupo chamado Orientadores do SL. Ajudamos novatos a se integrar às regras do jogo.

Escrito por Marily Araújo, do Estadão.com.br

Um comentário:

Hamster Mayo disse...

É realmente existe preconceito no mundo virtual. Eu mesmo passei por isso.
Tem um vídeo meu sobre isso no meu blog. http://hamstermayo.blogspot.com