sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O futuro do Second Life sem Ondrejka

A mudança da gestão técnica do metaverso trará mais agilidade ao Second Life ou só vai piorar tudo?

Cory Ondrejka (foto), o funcionário nº 4 na escala hierárquica da Linden Lab, gestora do Second Life, oficiosamente pediu para sair nesta terça-feira (11). Como é tradição no alto mundo corporativo, sua saída já está sendo marcada por muito mistério e especulação, principalmente em fóruns de discussão e blogs.

Contudo, a questão que mais importa hoje no Second Life é: A mudança da gestão técnica do metaverso trará mais agilidade na solução aos grandes problemas de estabilidade, que a muito tempo o assolam? Ou será que a saída de Ondrejka só vai piorar tudo?

Não existem muitas informações claras sobre as verdadeiras razões da saída do alto funcionário da Linden, considerado por muitos o mais importante. O bloqueiro Wagner James Au, relações humanas aposentado da Linden Lab, que trabalhou com Cory vários anos atrás, lembra que ele é uma pessoa muito agradável, bem humorada e lúdica. Seu avatar, o 'Cory Linden', é um caótico 'monstro de spagueti voador' (foto abaixo), uma sátira à teoria do Criacionismo e ao Desenho Inteligente.

"Ondrejka foi um dos dois mais populares e indispensáveis funcionários da Linden Lab", escreve Tateru Nino, uma conhecida residente que escreve para alguns blogs e que mantém sua identidade real no anonimato. Nino diz que a outra funcionária de alta relevância é Robin Harper, vice-presidente e responsável pelo Marketing e Desenvolvimento Social da Linden. "Isso não quer dizer que eles sejam insubstituíveis. Mas os dois formavam profundamente as metas a serem seguidas pela companhia", prossegue Tateru Nino.

"Não devo dizer que a saída de Ondrejka seja necessariamente um bem ou um mal para o Second Life. Entretanto, duas pessoas extremamente criativas, trabalhando harmonicamente em conjunto, tornam-se um exemplo para o resto do time, motivando-os a trazerem realizações e soluções com maior agilidade. Porém tudo isso para nada adianta caso exista uma voz dissonante neste harmonia, ainda que seja a voz do fundador da Linden, o senhor Philip Rosedale", alfineta. Nino conclui, dizendo que "a saída de Ondrejka marca uma mudança muito importante para o Second Life em 2008. Qualquer companhia que recebê-lo, terá grandes chances de se revolucionar, pelo seu grande talento criativo."

O que a saída de Ondrejka significa à comunidade SL? A maior demanda dos residentes diz respeito à estabilidade, travamentos e à dificuldade de navegação, trazendo constante sofrimento para aqueles que não dispõe de um computador rápido o suficiente e uma banda larga mínima aceitável para se viver dignamente no Second Life. A saída de Cory vai acelerar soluções neste sentido? Ou provará fora da Linden que é insubistituível?

Visões diferentes

Um residente do metaverso, conhecido por Moo Money, divulgou para vários órgãos de imprensa um e-mail corporativo, vazado por um funcionário anônimo da Linden, onde o CEO Philip Rosedale informa aos seus empregados que Cory Ondrejka já não fazia mais parte da companhia. Neste e-mail, Rosedale cita "diferentes visões irreconciliáveis" sobre o futuro do Second Life. Mas o que são estas diferentes visões?

Rosedale acredita religiosamente que o Second Life é um mundo onde as pessoas podem se 'separar' de seu alterego real e viver uma realidade inteiramente nova em um ambiente eletrônico. Lá você pode criar, inventar, se relacionar e, resumindo, criar seu próprio mundo. Isso parte do momento em que você cria uma conta e um 'nome e sobrenome' para o seu novo eu eletrônico. Nos Têrmos de Uso a Linden é clara ao proibir que qualquer um, inclusive os funcionários da empresa, utilize dados reais de um avatar no mundo real. Fora isso, a política da empresa é em não se envolver com as ações de um residente em seu metaverso. Ela evita criar muitas regras e não toma partido em disputas particulares.

Nem todos os residentes compartilham, entretanto, esta visão. Eu, particulamente, mantenho públicos vários dados reais meus, através do 'perfil' do meu avatar (Ziggy Figaro), inclusive indicando meu nome real, e-mail e número do meu telefone. Basta ir lá checar. Já a maioria dos residentes não abre mão em manter um certo grau de anonimato, desconectando diversos aspectos entre seu avatar e sua pessoa real, escondendo assim suas atividades reais. Não é preciso ser assim em um mundo virtual. No Facebook, por exemplo, uma ferramenta social 2D de grande sucesso, as pessoas fazem questão de abrir publicamente seus dados, inclusive com a postagem de biografias, currículos, fotos e gostos por determinadas coisas. Na verdade, isso é o que aproxima mais os participantes de uma rede social. Mas acho que este não é o objetivo principal do Second Life e da Linden Lab.

Motivos prováveis à saída do CTO

Outro indício para uma possível razão para a saída de Cory Ondrejka da Linden, foi uma missão postada por Philip Rosedale no blog oficial do Second Life, há cerca de um mês, onde descreve que o foco da empresa, que era até então de instalar novos recursos e capacidades ao metaverso, passou a apontar na solução à estabilidade e usabilidade do serviço. O CEO disse que estes problemas causaram falhas inaceitáveis na ligação cliente-servidor, provocando queda sensível de audiência no período entre Setembro e Outubro. "Pode parecer que não estamos ouvindo vocês, mas estamos", escreve Rosedale à comunidade. "Nós estamos mudando para melhor e acho que, para uma empresa com 250 pessoas, estamos fazendo isso mais rapidamente do que o esperado". Esta ligação cliente-servidor, segundo ele, é o "elo mais fraco" da Linden Lab e que a partir daquele momento teria toda a atenção da companhia, com metas de redução de falhas, a serem cumpridas ao longo do primeiro trimestre de 2008.

Rosedale disse também que em um curto prazo a Linden precisa tornar mais fácil o acesso web a partir de um mundo virtual (a Eletric Sheep Company já antecipou isso com seu OnRez). Mas seria necessária uma reformulação profunda de interface do navegador, tornando o uso do sistema mais acessível ao leigo, aceitando críticas de que a interface atual é de díficil aprendizado para os novatos. A Linden Lab precisa também trabalhar na prometida abertura do 'código-fonte' dos servidores, anunciada desde o primeiro semestre deste ano, o que aproximaria ainda mais a empresa junto à sua comunidade.

Seriam estas as razões da saída de Cory Ondrejka? Ele achava necessário antecipar os novos recursos em detrimento da grande instabilidade do grid? Ele achava possível solucionar a questão da estabilidade do Second Life antes do final do primeiro trimestre de 2008. Ou achava que Rosedale estava 'sonhando alto'? No final das contas, ninguém sabe mesmo como o Second Life será gerido tecnologicamente no próximo ano, sem um elemento tão importante ao metaverso e à Linden quanto Ondrejka. O futuro do metaverso prossegue em aberto.

Escrito por Mitch Wagner, para o InformationWeek.
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