segunda-feira, 14 de maio de 2007

"A arquitetura virtual nem começou"

Desde o final do ano passado, os arquitetos Fernando Vásquez e Luiz Junqueira, além de sua equipe, fazem projetos mirabolantes para o Second Life.

Imagine o que é para um arquiteto não ter de pensar em preparação de ambientes ditos "convencionais", com chão, teto e paredes. Poder criar um local em que a porta seja no teto, o sofá seja sobreposto, as paredes possam ser atravessáveis. Essa foi a reviravolta que aconteceu na vida do uruguaio Fernando Vásquez (na foto, à esq.), de 51 anos, e de seu sócio, Luiz Junqueira, de 41, quando eles começaram a fazer projetos para o Second Life (SL), game da web que simula a vida real.

A explicação de tamanha transformação é simples: os avatares podem fazer coisas impensáveis para reles mortais, como voar e atravessar paredes. Dessa forma, não há a necessidade de construções semelhantes às do mundo real. A liberdade, nesse sentido, é muito maior. “O Second Life possibilita a implementação das utopias dos anos 60”, diz Vásquez referindo-se às idéias de Verner Panton, designer que, naquela época, desenhou alguns móveis e objetos tão diferentes que eram impensáveis para a anatomia humana, mas não para a anatomia “avatariana”.

“O grande barato de criar no Second Life é a liberdade que temos para projetar, com condições muito diferentes da arquitetura real, que tem legislações, orçamentos, limitações técnicas, etc.”, diz Junqueira. Eles explicam que quando você constrói algo em uma ilha, tem de seguir as regras do dono desta terra. “Se você for dono da ilha, nem isso”, diz Vásquez.

E esse campo extremamente aberto e rico em possibilidades, que tanto fascínio causa nos habitantes do SL, é justamente o maior desafio que os arquitetos encontram para trabalhar no mundo virtual. “Você tem de saber controlar, para não ir da criação para o devaneio. A criação é produtiva, o devaneio é alienante”, afirma Vásquez. Só que essa liberdade esbarra nos limites técnicos do game. Segundo os sócios, a ferramenta de construção do Second Life, o builder, é bastante limitada. “O programa é muito primitivo. E você é compelido a usá-lo, o que provoca uma redução enorme”, reclama Vásquez. Ele conta que o builder possui apenas formas volumétricas básicas, como cubos, prismas e cones. “É uma espécie de Lego”, afirma.

Por conta disso, é difícil criar no SLestabelecimentos com curvas mirabolantes, ou praticar o que eles chamam de “arquitetura orgânica”, que valoriza os movimentos e as sensações, com projetos nada usuais. O problema é que construções complexas geram objetos mais pesados, que requerem um computador muito potente. O grande desafio é fazer essa arquitetura “alternativa” sem limitar o acesso ao mundo 3D.

É isso que Junqueira e Vásquez estão tentando fazer. Eles montaram uma equipe com mais 11 pessoas de diferentes áreas para trabalhar nos projetos. E não é que parece estar dando certo? Em apenas três meses, a cara dos projetos que eles fazem mudou bastante. “O segredo está nessa equipe de pesquisa”, diz Vásquez. O time é composto de especialistas em games e design gráfico, programadores, webdesigners e claro, arquitetos. “Muito mais a gente aprende a lidar com a ferramenta do que ela melhora efetivamente”, diz Mariana Távora, arquiteta integrante da equipe do SL.

Eles também começaram a utilizar os programas comuns de modelagem 3D para “fabricar” o mundo virtual. Que programa? Ah, isso eles não dizem. “Não podemos entregar o ouro para o bandido, né?”, brinca o arquiteto Marcos Figueiredo.

Desde que começaram a desenvolver projetos para o Second Life, o número de pessoas do escritório dobrou. “Tive de mudar de mesa. A sala de reunião não existe mais, agora três pessoas trabalham lá. Até a energia, às vezes, chega a cair de tanta gente trabalhando”, diz Junqueira. Mas ele garante que tanto esforço vale a pena. “O produto final está ficando com a cara que a gente tinha imaginado.” No mês que vem eles vão lançar o próprio escritório no Second Life Brasil , onde vão poder fazer projetos para avatares comuns. A dupla promete aceitar tanto lindens, a moeda local do game, como kaizen cash, válido apenas no SL brasileiro.

Por Cinthia Toledo
Fonte: Estadao.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

"Que programa?"

Blender

Pronto, entreguei o ouro.