quarta-feira, 4 de julho de 2007

O “avatar” marketing está aí…
Por Bruno Valverde Cota*

O mundo virtual está aí há já algum tempo. [...] Muitas pessoas estão a vestir uma nova personalidade e a encarnar novos corpos.

Há alguns meses estive na casa de um casal amigo que tem dois filhos. No jantar de sábado, o filho mais velho, de 19 anos, com um grande entusiasmo disse-nos que tinha tido um grande dia. Tinha comprado a sua própria ilha e iria para lá viver com uma amiga “loira espectacular”. O irmão arremata que tinha aberto uma discoteca, onde vendiam tatuagens e que passou a tarde toda fazendo compras com uma inglesa que acabara de conhecer. Bom, quando a conversa me começa a parecer um pouco esquisita, o pai disse que passou a noite de 5ª feira toda 'esquiando' e que o seu negócio de automóveis antigos estava correndo tão bem que iria abrir em breve mais 3 stands. Era tudo tão estranho para mim que eu ingenuamente perguntei, “mas Gonçalo, você agora também vende carros?” E a resposta foi: “’second life’, meu caro”.

Sem darmos conta, o Mundo Virtual está aí já a algum tempo. Muitas coisas deste mundo 3D podem parecer estranhas de início, como a mim que pareceu estranha esta conversa, mas o que é um fato é que muitas pessoas – e muitas vezes aquelas que nós nem esperamos –, estão vestindo uma nova personalidade e encarnando novos corpos. São os 'avatares', items gráficos que representam pessoas através de um meio informático. Através desta nova realidade muitas pessoas conseguem aspirar a ser o que nunca foram ou o que nunca serão na vida real, sem tabus e preconceitos, e viver uma outra vida… de sonho.

Estes novos “habitats virtuais” são normalmente encontrados na forma de “jogos de combate” – os mais populares–, como por exemplo o “EverQuest”, o “Lineage” e o “World of Warcraft” e de “interação social”, mais conhecidos por “social ‘networking’”, como o “Second Life” e o “Entropia Universe”. Apesar de inicialmente estes sites de “social networking” serem dirigidos para uma faixa etária dos 20 aos 30 anos, os adolescentes rapidamente aderiram a este mundo através de sites como o “My Space”, o “Bebo” (lançado em Julho de 2005 e que conta já com 27 milhões de usuários) ou o “Orkut”. Para Danah Boyd as redes sociais online são hoje um espaço muito importante para os jovens construírem as suas verdadeiras identidades e exprimirem as suas emoções e sentimentos.

Face a esta realidade, parece-me claro que estamos perante um fenômeno cultural e global, e que poderá representar uma verdadeira oportunidade de negócio para as empresas. Para além de já existirem mais de 1,5 mil milhões de pessoas ativamente on-line em todo o mundo e que a cada minuto que 200 novas pessoas aderirem pela primeira vez à Internet, estima-se que, em todo o mundo, utilizam com regularidade só o “social networking” mais de 250 milhões de pessoas. Poderá tratar-se de uma verdadeira “galinha de ovos de ouro”, pois este mundo virtual pela sua dimensão de usuários e número de interações que possibilita representar um enorme potencial para o marketing de produtos e serviços do mundo real. Vejamos o exemplo do “Wells Fargo Bank” que com o objetivo de captar adolescentes desenvolveu o mundo virtual “Stagecoach Island” que através de jogos e atividades lúdicas educa os adolescentes sobre os assuntos de poupança e dinheiro. A Coca Cola por sua vez criou o mundo “Coke Studios”, igualmente orientado para os adolescentes, que permite o acúmulo de pontos através de atividades relacionadas com a música, que mais tarde podem ser convertidos para a aquisição de móveis e equipamentos, para montar um estúdio.

Num mundo em que nem tudo o que parece é, as empresas do mundo real têm o desafio de conseguir captar vontades de consumo de produtos e serviços disponíveis no mundo virtual e fidelizá-las para o mundo real. Este mundo virtual poderá funcionar como um impulsionador de gostos. É necessário portanto conseguir transpôr os desejos do mundo virtual para o mundo real. Afinal, o futuro está on-line!

*Bruno Valverde Cota, Doutorado em Gestão de Empresas (Ph.D) , especialista em assuntos de Marketing e Comunicação.
Fonte: Diário Econômico.

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