"Hoje o Second Life... Amanhã, o mundo"
É o título da entrevista concedida à jornal The Guardian, pelo fundador da Linden Lab, Philip Rosedale. Ele acredita que sua companhia está na vanguarda da próxima grande revolução da internet: a web 3D.
Em 17 de Maio, Philip Rosedale, fundador da Linden Lab e criador no mundo virtual Second Life, concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal britânico The Guardian. Nela, ele analisa todos os pontos que colocam seu universo em evidência. O Mundo Linden reproduz, abaixo e com exclusividade, esta entrevista.
The Guardian: Qual foi a sua experiência e motivação para idealizar o Second Life?
Philip Rosedale: Minha experiência é com a Física, Matemática e Programação. Hoje estou muito interessado nos sistemas do 'caos', não lineares e emergentes. O Second Life é um destes fenômenos estranhos, onde cada nova peça incluída nele o torna mais atraente. Pessoas acham que nosso crescimento será descontinuado. Mas se você observar as estatísticas, nossa curva de evolução é perfeita, exponencial e orgânica, porque é um negócio baseado nos efeitos da internet. Mas temos que estar de olho em todos estes 'efeitos' da rede. Não estamos interessados em pequenos nichos de marketing. Ninguém está.
TG: Mas as marcas e agências publicitárias querem controlar o ambiente em que seus conteúdos estão inseridos, e por isso não entram no Second Life.
PR: Eu sei disso, porém nunca foi feito dessa forma na internet. Penso que o que ocorrerá é que estas marcas e agências publicitárias entrarão em comunhão com nossos métodos, absorverão o 'descontrole' do metaverso e fatalmente abraçarão a proposta do Second Life. É outro daqueles fenômenos de internet. Você começa a oferecer vantagens econômicas para algumas pessoas, e as outras seguem esta oportunidade, criando um ciclo.
TG: O que você promove no Second life é um tipo diferente de experiência. A maior parte das mídias inseridas tem se apresentado passivas, se distribuindo às pessoas como produtos prontos.
PR: Por causa disso que toda esta tecnologia do Second Life está disponível. Apesar de aparentar um game 3D, o metaverso permite experiências de criação e negociação não-passivas. Quando assisto aos vídeos do YouTube, percebo que as pessoas querem promover seu próprio conteúdo na internet. Mas observo que outras pessoas também querem se mostrar criativas, mas não a fazem porque o mundo real geralmente não permite este tipo de iniciativa. A Web 2.0, onde o Second Life está perfeitamente inserido, tem como proposta principal a promoção do conteúdo fornecido pela ponta final da rede, o internauta. Então, a mídia tem que rever seus conceitos sobre conteúdos de entrega unilateral. Nós visualizamos isso em 2004, adotamos a idéia e agora estamos evoluindo, notadamente.
TG: No Second Life, através do avatar que você cria coisas, pode caminhar, correr, voar e dançar. Pode também comprar imóveis, abrir uma loja e transar. Neste mundo virtual, é possível se suicidar?
PR: Sim. Você pode 'assassinar' sua conta. De fato, creio que alguém estará escrevendo um livro dramático sobre isso, algum dia [risos].
TG: Fale um pouco sobre a tecnologia que move o Second Life... Não roda no Windows Vista?
PR: Tem algo de errado no Windows Vista, e estou trabalhando nisso. O real desafio tecnológico que nós temos na renderização de um mundo virtual 3D, é por que historicamente apenas os games fazem isso, na visão das corporações do hardoware e do software. Queremos mostrar à todos que o Second Life é a próxima revolução do world wide web e que todos os computadores devem conter recursos mínimos de renderização 3D. Acreditamos, no entanto, que em 18 meses todos os novos computadores virão com placas gráficas de poder suficiente para rodar nosso metaverso. Em alguns casos, a depender da placa gráfica adotada pelo usuário, o Windows Vista, bem como o Max OS X, já rodam o Second Life sem problemas. Acredito que, tecnicamente, começamos um pouco cedo com o Second Life, no que diz respeito a disponibilidade de hardware no mercado. Mas os resultados não nos deixam dúvidas de que entramos em um momento interessante, o que nos colocou em ponto de referência em relação as outras iniciativas semelhantes. O mais surpreendente é que o Second Life ainda está em processo de 'maturação', assim como a própria internet dita '3D'.
TG: Qual a próxima grande etapa do Second Life?
PR: Penso que a inclusão da tecnologia de voz em nosso mundo virtual será algo histórico para o nosso mundo virtual. O grande problema é que leva muito tempo para sabermos o que precisa ser feito no Second Life, a seguir. Mas quando você ultrapassa essa fase, o SL se torna uma estrada mais suave na internet, como um meio próprio de tráfego de informação na internet. Com isso, queremos aumentar a participação dos internautas em todo mundo, em um ambiente 3D através do nosso metaverso. Se cada pessoa gastar 4 horas mês em um mundo virtual, o Second Life poderá ser considerado uma espécie de internet paralela. Pessoas criarão contas de internet apenas para usar nosso mundo virtual. Temos capacidade para absorver tal demanda? Estamos trabalhando diariamente para que o SL possa suportar seu numero crescente de residentes ativos. Mas o que queremos, de fato, é criar um novo conceito de uso da internet. Uma nova e mais realista utilização da rede mundial. É indiscutível que o Second Life está na vanguarda deste conceito.
TG: Quão grande você mede a idéia do Second Life? Você diz que é a próxima web.
PR: Se reconhecermos que o Second Life é de fato uma grande idéia, significa então que poderíamos incluir novas orientações a ele. Hoje, nosso metaverso é a mais visível experiência de navegação 3D na internet. Mas não estamos sozinhos. Sinceramente, apoio as outras iniciativas que exploram a idéia de mundos virtuais. Com elas, poderemos ver onde falhamos e quais idéias deixamos de ter, para nos aperfeiçoarmos e nos complementarmos ainda mais.
TG: Qual é o seu modelo atual de negócios? Hoje, como se sabe, a Linden Lab faz dinheiro vendendo terras no Second Life, inclusive com impostos. Basicamente, o Second Life é um negócio imobiliário no cyberespaço?
PR: É um negócio imobiliário virtual, porém um pouco menos abstrato do que muitas pessoas imaginam. O que vendemos de fato é 'computação'. Vendemos núcleos de centrais de processamento. Se você compra 16 acres de terra, o que representa quatro blocos urbanos, na 'real life' você está alugando um processador.
TG: Desde 2004 você disponibilizou às pessoas que 'fizessem dinheiro' no Second Life, os Linden dólares, podendo ser convertidos em dinheiro real. Você tem estatísticas precisas sobre troca de lindens por dinheiro real? O Second Life já fez mesmo seu primeiro milionário? Em que ponto os mundos reais e virtuais começam a se colidir?
PR: Nosso produto interno bruto (PIB), gira hoje em torno dos US$ 550 milhões, e continua crescendo rapidamente. Possuir uma economia própria faz todo sentido, pois permite à todos desenvolverem suas próprias micro-transações.
TG: Como você vê o Second Life? Pode ser considerado um país independente?
PR: Nós aprendemos muito sobre política monetária. Estou apaixonado pelo tema. Reconhecemos que o PIB do Second Life cresce em taxas extremamente rápidas, se comparadas às economias do mundo real. Eu as chamo de 'funções de banco central'. Ficaria imensamente satisfeito se um grande economista se juntasse ao nosso time.
TG: Você está desenvolvendo uma economia virtual, com base real, mas é essencialmente uma 'ditadura' dirigida por você - Philip Linden, enquanto é conhecido no Second Life como 'O Ditador'. O que pensa disso?
PR: Sim, mas é uma pergunta subjetiva. Se um país estabelece um recorde de desapropriações de terras, por nenhuma razão lógica, então observam-se os limites que contornam uma ditadura. Nós não fazemos isso no Second Life. Poderíamos nós desligar um servidor apenas porque estamos chateados com alguém do mundo virtual? Sim, poderíamos fazer isso. Mas não o faremos porque penso que atitudes assim poderiam colocar em risco tudo aquilo que construimos, arduamente durante tanto tempo.
TG: Você já teve que ajustar sua política no Second Life. Já existiram alguns rompimentos corporativos, sob sua ordem. Você não está fora das decisões políticas do metaverso.
PR: Claro. Eu observo e atuo centralmente em casos como fraude ou crimes extremos. Houveram casos em que dados 'reais' de residentes seriam expostos. Neles, agi diretamente e fiquei satisfeito com os resultados.
TG: Acredita que pornografia é a locomotiva da economia no Second Life?
PR: Em absoluto. Claro que não. Mas é difícil admitir que este segmento está entre o TOP 10 do nosso ranking corporativo de investimentos. A maioria das transações deste mercado é feita entre residentes, informalmente. Outras transações, realizadas em máquinas de venda. Não podemos negar que a pornografia é um elo importante do nosso crescimento. Mas a partir do momento que autorizamos ao nossos residentes utilizarem e comercializarem todo seu poder criativo, significa que sabíamos desta possibilidade. Mesmo assim, combatemos os excessos. Hoje, te digo com absoluta certeza que o mercado de roupas, jóias e acessórios é o maior e mais vistoso na economia do Second Life.
TG: E sobre os indícios de lavagem de dinheiro?
PR: Esta não é minha especialidade. Nossa assessoria jurídica está cuidando disso. Penso que a lavagem de dinheiro real envolve a passagem do mesmo pelas contas de nossos residentes, transformando-o em lindens, para depois retornar ao mundo real com a fonte 'lavada', ou seja, nós. Estou muito preocupado com isso, mas estamos verificando a melhor forma de corrigir o problema.
TG: Como você vê a idéia de avatares criados no Second Life, saindo pela internet e interagindo em outros sistemas web?
PR: Estamos criando um 'backend' para dar suporte a isso. Nossas equipes de desenvolvimento já trabalham no conceito de identidade, através do avatar, pela web. Penso que, em 1 ou 2 anos, veremos alguns mundos virtuais interconectados, desde que tomemos a iniciativa de procurar as outras empresas e trabalharmos nisso. Acredito que, se você está disponível para abraçar uma idéia, e é dominante neste mercado, a mesma pode vir a se concretizar, qualquer que sejam a forma e o prazo.•
domingo, 20 de maio de 2007
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