sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O Second Life e o circo
por Paulo Ferraz*

"Muitas empresas, ao investirem no Second Life, resolvem pedir ajuda a pseudo-consultores que se passam por mágicos, prometendo o que não podem cumprir, assim como fez meu o pai (sem intenção de prejudicar ninguém), na sua brincadeira com o amigo sacana.”

A esta altura, os prezados leitores devem estar se questionando: “Macacos me mordam! O que o Second Life tem haver com o circo?”. Caaaaaaaaaalma, amigo... Já lhes explico, e a melhor forma de fazer isto é contar-lhes uma experiência pessoal. Ao menos você irá relaxar, nesta fase em que muitos andam estressados com o famoso mundo virtual.

Quando mais novo, lá pelos meus 15 anos de idade, costumava viajar bastante com o meu pai e sua esposa para fazer camping pelo litoral brasileiro. Naquele tempo, “fazer camping” não era dançar como bobo pelo Second Life. Acampar era um saudável programa familiar, no qual as pessoas se reuniam num espaço físico aberto (normalmente paradisíaco), montavam suas barracas ou estacionavam seus traillers (aquelas casas sob rodas), e curtiam dias de vida junto à natureza.

O espírito da aventura, seguramente, eu herdei do meu velho que, a certa altura da vida, cansado daquele monta e desmonta das barracas, comprou um trailler e resolveu rodar o Brasil. Meu pai puxava o seu novo brinquedo pelas estradas com um velho Dodge Charger RT dourado, fabricado pela Crysler do Brasil. O possante carro, luxuoso para os padrões da época, fazia 6 km com um litro de gasolina.

Meu pai já era entusiasta da tecnologia muito antes de mim. Foi ele que me mostrou como, com uma simples pedra de um material chamado Galena, poderíamos montar um rádio pré-histórico. Para este feito, ele usou uma técnica que muitas pessoas na Europa, na fase da II Guerra Mundial, conheciam e utilizavam para poder escutar as notícias sobre a batalha em Ondas Curtas (OC).

...

Por muito tempo a mídia mundial se portou como típicos provincianos, deslumbrados com a chegada de algo que lhes quebrou a rotina monótona do dia a dia nas redações. Eles correram com toda euforia para ver a novidade, a qual muitos interpretaram sob suas limitadas compreensões, e correram gritando “Lá vem o circooooooooooo!!!”. Os moradores mais sábios e experientes, sabendo tratar-se de turistas com suas casas sobre rodas, continuaram como estavam, mas puderam ao menos rir dos inexperientes.

Muitas empresas, ao investirem no Second Life, resolvem pedir ajuda a pseudo-consultores que se passam por mágicos, prometendo o que não podem cumprir, assim como fez meu o pai (sem intenção de prejudicar ninguém), na sua brincadeira com o amigo sacana. Os curiosos e entusiastas do espetáculo prometido pela nova tecnologia, assim como os moradores daquela cidade, seguramente ficaram muito desapontados com o falso alarde, dado pela imprudência de jornalistas mais afoitos.

Que o circo um dia chegará àquela pequena comunidade virtual, e fará um espetáculo inesquecível, ninguém duvide. Só pedimos àqueles que noticiam as novidades mais prudência e responsabilidade, antes de gritarem precipitadamente pela chegada do espetáculo ao Second Life. Senão, muitos serão iludidos por mágicos, e terminarão pedindo ajuda ao palhaço.

Clique aqui para ler a íntegra deste artigo.

Origem: secondlifereview.blogspot.com

* Paulo Ferraz é advogado especializado em Direito das Telecomunicações, ex-servidor da Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, fez em 2000 curso de e-commerce no Massachusets Institute of Technology (M.I.T.) - USA, e possui experiência na área de Direito Empresarial, Franchising e Propriedade Industrial. Em seu escritório em Brasília, trabalha como consultor de empresas no Second Life.

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