"Quer transar comigo?"
por Kariny Grativol*
O dia em que a repórter da Revista Criativa mergulhou no Second Life para investigar a diversão e o sexo no mundo virtual. Reproduzimos aqui a íntegra do artigo.
Desde o lançamento do Second Life no Brasil, quatro meses atrás, eu ensaiava a minha entrada no universo de bytes e pixels. Queria descobrir como é a vida sexual dos quase 6 milhões de habitantes do mundo virtual mais badalado da atualidade. São pessoas comuns, assim como eu e você, que diante do monitor, protegidas atrás de codinomes, sentem-se confortáveis o bastante para colocar em prática seus desejos mais secretos. E agora, com o aval da minha editora e um prazo para que o relato entrasse na edição de setembro, finalmente criei coragem.
O primeiro passo é decidir um nome para a minha avatar, ou seja, a personagem que vai me representar. Escolho Pam (confesso que, diante dos meus objetivos, logo pensei na Pamela Anderson). Da lista de sobrenomes disponíveis fiquei com Aya. Pam Aya é sonoro, não? A partir de agora, portanto, sou Pam Aya: tenho cintura fina e quadris um pouco mais largos, estilo violão. Não sei as medidas exatas, mas calculo que meus seios sejam tamanho 42 e minha altura, 1,70 metro. Meus cabelos são longos e ruivos e meus olhos verdes fazem inveja ao mar do Caribe. Que homem, ou melhor, neste caso, que avatar resistiria a mim? Com uma calça jeans justinha e camiseta, vou atrás de um pouco de diversão.
Estou ansiosa para perder minha virgindade virtual. Mas antes preciso encontrar um local onde as pessoas mais ousadas se reúnam, afinal o sexo que eu pretendo praticar não é nada além do casual. Isso não quer dizer que no SL (sigla para Second Life) não existam relações românticas. Elas existem, mas, se encontrar uma alma gêmea na vida real já é complicado, imagine nesse universo ultradependente do mouse, do teclado e de uma boa conexão na internet. Uma rápida olhadela para baixo, mais especificamente entre as pernas, me faz lembrar que não tenho uma vagina. Por aqui, ninguém nasce com genitália - masculina ou feminina. No SL, órgão sexual não é original de fábrica. Trata-se de um opcional, como a direção hidráulica ou o ar-condicionado de um carro: ou você paga a mais por ele, ou ganha em alguma promoção. E lá vou eu comprar uma vagina. Há diversos modelos: pequena, média, grande, com piercing, tatuada, totalmente depilada... Escolho uma opção básica, discreta, com depilação no formato de triângulo invertido. Custou pouco mais de 1 real, ou 50 linden dólares, a moeda local.
Devidamente paramentada, à imagem e semelhança de Eva, abro a janela de busca e sou bastante explícita no meu pedido: SEXO. Cruzo com mulheres e homens nus pelas ruas virtuais. Eles zanzam para lá e para cá com a mesma naturalidade com que gente de carne e osso ruma ao trabalho ou vai passear no parque (vestida, é claro). Eis que caio em um lugar chamado Floresta Proibida e - pior (ou melhor!) - dentro de uma sala de orgias. Dois casais bem animados se divertem sem pudor algum sobre um conjunto de almofadas. Um avatar nu vem seco em minha direção, pronto para o ataque. Careca, musculoso e coberto por cintos espinhudos, ele exige sexo. Saio correndo. Medo.
Seguindo em minha cruzada dionisíaca, entro em uma sex shop. Enquanto observo equipamentos para a prática de sadomasoquismo, sou abordada por DPR, um italiano tão simpático quanto fogoso (as coisas que ele me diz são absolutamente impublicáveis aqui). DPR fala inglês, tem o corpo enxuto e cabelo castanho arrepiado com um pouco de gel. Seu pênis mede uns 18 centímetros e temos quase a mesma altura. Depois de alguns minutos de bate-papo, ele me pergunta se quero ir para um lugar mais reservado. Topo na hora. DPR me teletransporta (viajar é simples assim no SL) para o Iate Clube. Vodca com gelo, vista para o mar, sofás aconchegantes... E o meu italiano não perde tempo. Foi uma situação engraçada e constrangedora. Explico: sexo no universo virtual é muito menos espontâneo e envolvente do que no real. Em muitos momentos me sinto como uma diretora de filme pornô: escolhendo o elenco principal da fita, buscando locações para as cenas e testando o melhor ângulo da câmera. Para consumar uma relação sexual, além de um parceiro interessante, são necessárias algumas bolinhas azuis (para os homens) e rosas (para as mulheres) que aparecem no cenário do programa. Elas podem representar desde ações específicas, como sexo oral, até um ato de amor completo. Fiquei com a segunda opção e, depois de clicar, não precisei fazer mais nada, só assistir à performance cheia de variações da minha personagem.
A criatividade fica completamente fora de cena e tudo depende apenas da capacidade artística dos criadores do software. Os bonequinhos trocam de posição quando bem entendem e gozam quando acham que é hora. Achei estranha toda essa independência e ainda por cima descobri que não há penetração: os personagens mal se encostam. Talvez meu parceiro também tenha ficado frustrado com a falta de encaixe, pois me convidou para continuar a sessão no MSN ou em uma webcam. Recusei, mas Pam e DPR nem pareceram perceber o fora. Por quase uma hora, continuaram a demonstrar posições do "Kama Sutra" como se nada tivesse acontecido, mesmo eu já tendo perdido todo o interesse nos primeiros 15 minutos. Se foi bom para mim? O que posso dizer é que, se só o teclado estiver à disposição, prefiro usar apenas palavras e a minha própria imaginação.
*Kariny Grativol é jornalista e repórter da Revista Criativa.
Origem: Revista Critiva | Globo.com.
Fonte do artigo:
http://revistacriativa.globo.com/Criativa/0,19125,ETT1617855-5458,00.html
terça-feira, 25 de setembro de 2007
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