O segredo do Second Life em uma palavra
Por Lucas Pretti*
"O que explica, então, o 'estouro da bolha', como a imprensa brasileira já chegou a qualificar? Darwin explica."
Em um ano de cobertura diária do Second Life, as emoções em torno do jogo (jogo?) se alternaram entre perplexidade e enfado. O fervor que qualquer notícia sobre o mundo virtual causava no início de 2007 foi substituído gradativamente pela indiferença. Mas qualquer explicação dada até hoje para o fenômeno é imprecisa e perde para as estatísticas. O número de usuários não pára de crescer, assim como a economia intramundo. Mais metaversos surgiram, com tanto ou mais sucesso, e projetos de integração entre eles são a próxima promessa do mundo 3D.
O que explica, então, o “estouro da bolha”, como a imprensa brasileira já chegou a qualificar? Darwin explica. O Second Life passou em 2007 por uma seleção natural. Viu os empreendedores desistirem de ganhar dinheiro fácil, fez com quem estava ali futilmente a passeio saísse e assistiu à tomada de poder pelos “usuários 2.0”.
Só percebe qualquer alteração cultural quem observa de muito perto, como faz desde julho o jornal MetaNews, mantido pelo Grupo Estado exclusivamente no mundo virtual. A ousadia de publicar um jornal todos os dias em um universo “de mentira” é a prova de que empreendimentos no Second Life devem levar em conta a tal palavra prometida no título deste artigo.
Ao contrário da web e dos costumes digitais adquiridos com ela desde 1995, levar uma segunda vida (não a rotina, mas o conceito) é algo menos veloz do que se imagina. Como qualquer projeto da primeira vida, os de lá também levam tempo para ser amadurecidos. 2007 foi justamente a fase de amadurecimento.
Isso é chato para a mídia, pouco promissor para empresas e desconfortável para gamers e usuários 1.0. Mas a (segunda) vida é assim. Faltou a palavra prometida no título: perenidade.
*Lucas Pretti é jornalista e foi o primeiro avatar do Estadão no Second Life.
Escrito para o caderno Link . Estadão.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
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