Comunidades como o Second Life são uma pista para o futuro
Lourenço Medeiros (foto), o editor de Novas Tecnologias do canal de televisão SIC, explica porque razão foi o primeiro jornalista de Portugal a estar no mundo virtual. Confira a entrevista:
É o primeiro jornalista português a ter um avatar no Second Life. Porquê?
Em televisão sou de certeza. O que acontece é que nas outras tvs, e isto não é uma crítica, falam com alguém que usa o Second Life, retiram os dados necessários, fazem pesquisa e depois constroem uma peça sobre o assunto. Eu faço questão de pôr a mão na massa. Durante semanas, enquanto fazia outros trabalhos, ia passando algum tempo no Second Life. Aluguei uma casa, conheci pessoas... Depois fiz a peça.
Como se chama o seu avatar?
Lourenço Merlin. O Second Life não deixa escolher o apelido. Mas fiz questão de ser verdadeiro. Disse sempre às pessoas quando estava gravando. Foi uma experiência interessantíssima. Tenho horas e horas de material que nunca usei, nem usarei.
Como estabeleceu contatos nesse meio?
Consegui todas as entrevistas que quis através dos contatos que fiz dentro do Second Life.
Usou contatos externos?
Não. Queria falar apenas com pessoas que usassem o Second Life. Encontrei-as todas lá dentro. Depois houve algumas com quem falei aqui fora.
Porque criou Lourenço Merlin de forma tão realista?
Não tenho muito tempo para comunidades. Aprecio o fenômeno, sigo-o, mas não sou capaz de me envolver a sério nisso. Há muito que queria fazer uma matéria sobre o Second Life. Houve uma altura em que isso se tornou indispensável pela dimensão da coisa, e então decidi fazê-la. Nesse processo fiz questão, e acho que isso devia fazer parte da ética de qualquer jornalista, de dizer às pessoas o que estava fazendo. Gravei entrevistas no Second Life, mas as pessoas sabiam disso. Tenho muitas imagens, mas não há uma única em que as pessoas não soubessem que eu estava gravando e que poderia eventualmente utilizar na minha matéria. A primeira entrevista que fiz foi com uma voluntária da campanha de Hillary Clinton [para as eleições presidenciais norte-americanas]. Mas acabei não utilizando essa entrevista. Passei algumas imagens, mas ela sabia que a estava entrevistando oficialmente.
Julga que o Second Life será uma comunidade virtual indispensável no futuro?
Não sei se é indispensável. Isto também tem as suas modas. Acho que é uma grande pista, já com grande sucesso, para coisas que vão acontecer. Assim como as pessoas se envolveram com a internet no seu formato ‘www’, onde encontram amigos e pessoas com os mesmos gostos, vão fazê-lo em formatos tridimensionais. O Second Life é uma das receitas que pode ter futuro durante muitos anos, mas não sei se para sempre. De qualquer forma, as comunidades do gênero vão ser quase indispensáveis.
A SIC está preparando sua entrada no Second Life?
Não posso falar disso. Posso dizer que a SIC já lá está porque eu estou lá.
É o editor de Novas Tecnologias da SIC. Como foi criada esse departamento pioneiro?
Foi um departamento pioneiro e penso que foi criado um pouco para mim. Em outras empresas especializei-me em novas tecnologias e vim fazer a SIC Online. Depois a crise apertou tudo o que era internet. E a SIC Online teve de ser tão reduzida que não se justificava manter uma direção editorial e vim para a redacção com muito gosto. Depois a direção achou por bem aproveitar os meus conhecimentos na área para ter uma pessoa dedicada exclusivamente a esta editoria.
Uma área fundamental...
Acho que não é possível não ter notícias de novas tecnologias hoje em dia. Bem, podia-se passar ao lado do assunto, mas passava-se ao lado do que se passa no Mundo. A diferença é ter ou não pessoas especializadas. Felizmente na SIC conseguimos ultrapassar algum amadorismo que existe em Portugal no jornalismo de novas tecnologias nas redações generalistas. Não estou falando da imprensa especializada, que dispomos e é muito boa.
Que balanço faz do quadro ‘Futuro Hoje’, que apresenta no ‘Jornal da Noite’ de domingo?
O quadro em si tem pouco tempo. Sei que há algumas críticas à falta de rigor, mas julgo que isso é uma crítica geral à televisão, por isso nem me preocupo muito. No geral tem sido excelente pois divulgamos estes temas no espaço de informação mais nobre que a SIC tem. Se estivessemos fazendo um programa para um nicho, se calhar muita gente nem daria por ele. Ao darmos tanta força nesta área nos telejornais generalistas, acho que todo mundo aprecia. Tanto aqueles que já gostam destas matérias como aqueles que estão descobrindo alguma coisa.
GENERALIZAÇÕES PROVOCAM CONFUSÃO: “NÃO SOU TÉCNICO NEM PIRATA INFORMÁTICO"
Na redacção onde trabalha, Lourenço Medeiros é uma ‘vítima’ da sua própria versatilidade: “Os meus colegas pedem muitas vezes ajuda quando têm problemas no computador. Mas não sou técnico. De fato, há duas ideias erradas sobre mim. Uma é que sou técnico, mas nem sequer tenho um curso na área. A outra é que eu sou um pirata. Não sou. Aliás, sempre tive a mania de pagar pelo ‘shareware’, aqueles programinhas que nós podemos usar mas que deveriam ser pagos. E confesso que isso nunca implicou muito dinheiro.”
PERFIL
Tem 44 anos. É solteiro, “sem filhos, mas com duas cadelas e dois gatos”. Começou no jornalismo através da rádio, mas rapidamente entrou no mundo da televisão integrando a redação do ‘Jornal das Nove’ na RTP. Em 1998 foi para a SIC Online, onde ficou até ser criada a editoria de Novas Tecnologias na SIC generalista.
Por João C. Rodrigues
Fonte: Correio da Manhã.
sexta-feira, 29 de junho de 2007
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