segunda-feira, 6 de agosto de 2007

"Pai do Ciberespaço" lança livro em evento no Second Life

William Gibson foi a Second Life apresentar o seu novo livro, Spook Country. Em entrevista no mundo virtual afirmou que oSL não é o cenário que idealizou, mas que a ficção-científica é assim mesmo.

O homem que cunhou a palavra ciberespaço e o derivativo cyberpunk voltou para casa, diriam alguns dos muitos que desde bem cedo encheram o espaço destinado à apresentação do novo livro do autor de Neuromancer, Burning Chrome ou Difference Engine. Desde há um quarto de século que Gibson traça mundos fantásticos, de que Spook Country é a nova viagem. Razão suficiente para a editora Penguin, seguindo a atual tendência de mercado, levar o autor para o Second Life, afinal um mundo onde muitos dos mais antigos residentes são leitores fanáticos de Gibson, cyberpunks capazes de recitar de cor páginas e páginas de Neuromancer.


A experiência de uma apresentação no Second Life está sempre condicionada à capacidade do simulador onde é realizada. A RiversRunRed, responsável pelo projeto, não calculou bem o potencial deste lançamento, pelo que se pode dizer que a volta de William Gibson para casa não correu como todos esperavam. Começando pela assistência, que chegou horas antes do evento começar, ter de ser despejada da sala – o que no SL significa ficar em uma espécie de limbo – para que os organizadores conseguissem colocar William Gibson – ou seu avatar, posicionando-o no palco.

Sem imagem ou som

Entretanto a massa de gente era tanta que se tornou impossível recuperar lugares estrategicamente obtidos horas antes. Houvem quem recorresse a uma área adicional, onde uma grande tela de vídeo e áudio permitiriam a mais algumas dezenas de pessoas seguirem a apresentação.

Sinal evidente da ainda frágil infra-estrutura do Second life quando se trata de eventos deste tipo. Tudo falhou. Durante boa parte do tempo nem o vídeo ou sequer áudio chegaram a uma audiência que, em muitos casos, correu apressadamente na vida real, para poder estar perto de um computador e no Second Life, para o evento. Nesse aspecto, de presença de público, pode dizer-se que a visita de William Gibson foi um sucesso. Mas uma fração dos assistentes só teve oportunidade de escutar o autor ler passagens do seu livro e o único vídeo que viu foi o documentário – excelente, por sinal – No Maps for These Territories, emitido horas antes da chegada do pai da cibercultura.

Saldo positivo

O som, transmitido desde a MDM – Masters of Digital Media, em Vancouver, para os estúdios da RiversRunRed em Londres, levou a voz do autor, a partir de certo momento, até todos os assistentes, primeiro numa leitura de trechos de Spook Contry, depois respodendo a uma série de perguntas. Muitas delas já respondidas nas sessões de lançamento de livros de Gibson no mundo real. Não havia nada de absolutamente novo para perguntar, o escritor soube rodear as questões mais sensíveis em torno do que pensava do Second Life; afinal ele nega que seja o “pai” espiritual deste mundo, até porque o ciberespaço descrito em Neuromancer é algo cruel, negro, muito distinto da visão quase capitalista que parece traçar-se no horizonte de Second Life.

A experiência acabou por ter um saldo positivo, sobretudo pela dimensão de William Gibson e pelo que demonstrou de potencial de disseminação de cultura, que é porventura, a vertente em que mais se devia investir no mundo alternativo. A possibilidade de reunir num mesmo local pessoas de diversas partes do mundo para uma apresentação de um livro – ou de outro qualquer produto cultural – é algo que não é possível na vida real. Por isso mesmo é uma enriquecedora experiência que mais e mais editores e produtores de conteúdos deviam explorar.

Para Jeremy Ettinghausen, da Penguin Books, responsável pela edição da obra de Gibson, a quantidade de mensagens recebidas dentro de SL durante o evento – onde o avatar Jeremy Neuman serviu de interface –, com um simples “obrigado por terem realizado isto, estou muito feliz por estar aqui” sugere que um novo canal de comunicação universal pode estar aberto.

Escrito por José Antunes, do Expresso Clix

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