Falha no sistema bancário do Second Life indica necessidade de regulamentação
Advogado americano lidera movimento para que a Linden Lab regulamente as práticas financeiras no Second Life. Professor da Contabilidade acredita que os próprios usuários podem oferecer esta solução. O "episódio Ginko" deverá apresentar desdobramentos em breve.
O recente colapso da Ginko Financial (1, 2), um "banco virtual de investimento" no Second Life, provocou centenas de pedidos para que as práticas financeiras no metaverso apresentem maior transparência e cuidados contábeis. Na semana passada, a Ginko - um banco não regulamentado que prometia aos seus investidores retornos astronômicos (que chegavam a 60% de rentabilidade), e gerido por um proprietário com identidade ainda envolta em mistérios e suspeitas - anunciou que não estaria mais exercendo suas atividades financeiras.
Sua declarada situação de insolvência, significou que a Ginko seria incapaz de reembolsar aproximadamente 200 milhões de lindens, cerca de 750 mil dólares, aos residentes do Second Life, que investiram seu dinheiro em um banco que prometia lucros exorbitantes, com pouco mais de dois anos de existência.
"É preciso lembrar que não existem muitos lugares no Second Life para se aplicar dinheiro", disse Benjamin Duranske, advogado responsável pelo Virtually Blind, um blog especializado no relato de crônicas sobre jurisprudência no mundo virtual, bem como os incidentes legais que refletem em impacto sobre ambientes como o metaverso da Linden Lab. "Quando você tiver uma renda disponível para aplicação e um banco que chega prometer 60% de rentabilidade, estabelece-se aí um ambiente favorável ao risco absoluto, com chances proporcionais de prejuízo".
Logo após a notícia da quebra da Ginko Financial, centenas de investidores atingidos pela sua falência, bem como outros residentes com aplicações ativas em outros bancos do Second Life, inundaram fóruns de discussão, clamando por reparação e pela regulamentação das atividades financeiras no metaverso.
Linden Lab e FBI
Contudo, o escândalo do "sumiço" de 750 mil dólares dos investidores da Ginko nada mais é do que um recente episódio que levanta a consciência sobre a falta de leis no Second Life e suas inconveniências. Semanas antes, para acalmar o FBI, a Linden Lab decretou o fim do jogo virtual ("gambling") e o banimento de todos os cassinos de seu ambiente eletrônico. Na última quinta-feira, a empresa lançou um comunicado na tentativa de esclarecer seus regulamentos já existentes sobre a economia virtual do Second Life.
"A Linden Lab não pretende menosprezar ou subverter as leis do mundo real em nenhuma instância. Procuramos alertar nossos residentes para que desconfiem de qualquer um que ofereça taxas de rendimento 'absurdas', proporcionalmente nos mundos real e virtual. Se parecer 'bom demais para ser verdade', talvez por que provavelmente seja mesmo." Foi uma resposta oportuna, tendo em vista de que o Second Life possui cerca de 30 outros bancos que operam nos parâmetros da Ginko. Fato é que os prejuízos gerados pela Ginko provocaram um levante em nome da transparência nas operações financeiras do metaverso.
Duranske está na frente deste movimento. Advogado especializado em propriedade intelectual, deixou de lado provisoriamente seu trabalho para se focar no livro que está escrevendo, com tema nas "leis do mundo virtual". Ele foi uma das primeiras pessoas que levantou suspeitas sobre os proprietários da Ginko Financial, cerca de dois meses atrás. Seu blog é hoje o que possui a maior base informativa e pública sobre o "caso Ginko". Um levantamento de Duranske, por exemplo, mostra que uma minoria perdeu quantias a partir de US$ 10.000. Mas a grande maioria dos investidores atingidos tiveram perdas relativas entre US$ 50 e US$ 100.
"Muita gente se esquece que o Second Life está sob o governo e as leis dos Estados Unidos e da California", explica Duranske. "O incidente da Ginko só foi possível por que estas leis não são levadas para dentro do metaverso e feitas valer". Contudo isso está para mudar. Duranske confirma que a pressão crescente com a qual a Linden Lab está tendo que lidar nos últimos dias, sobre a questão da Ginko, devem provocar uma atitude inadiável da empresa para que providências efetivas sejam tomadas a respeito. Caso contrário, o FBI será novamente convocado a intervir, o que a Linden mais teme.
Ou seja, a Linden Lab precisa dar uma resposta consistente e consolidada sobre a Ginko. Especialistas contudo não conseguem ver um cenário sem a presença do FBI. Nos Estados Unidos, quando dezenas (ou centenas) de ações judiciais são impetradas contra um determinado réu, automaticamente as autoridades federais são chamadas para assumirem as investigações. Se depender dos usuários da Ginko, o FBI deverá localizar e prender os proprietários do banco.
Residentes se adiantam na regulamentação
Robert Bloomfield (foto), professor de Contabilidade da Universidade de Cornell, pensa de forma parecida, mas com ressalvas. Ele diz que a falência da Ginko e o recente fechamento dos cassinos, além de outros incidentes caracterizados como fraudes, está deixando usuários do setor financeiro do Second Life em estado de perplexidade. Bloomfield diz que estes residentes já estão dando sua resposta, criando iniciativas próprias para assegurar que a confiabilidade e a segurança contra fraudes sejam garantidas nos mecanismos financeiros do Second Life. Exemplo disso é a instalação da SEC - Second Life Exchange Comission (Comissão Monetária do Second Life), idealizada para criar regras de conduta ética no mercado financeiro virtual, baseado nas companhias e iniciativas dos residentes.
"Será muito interessante ver quais organizações sobreviverão (se é que vão), quando tiverem que se adequar às mesmas regras dos mundo real, para redução do risco de fraudes", disse. Bloomfield admite que está pessoalmente se pondo a par dos hábitos contábeis normalmente praticados no Second Life. Ele está colaborando com o SEC para que um documento oficial, com as normas de conduta, seja adotado pelas companhias financeiras virtuais. A idéia é criar um "selo virtual" atestando que aquela instituição está dentro das normas da SEC. Para entrarem nessa lista, as empresas interessadas terão que autorizar auditoria prévia da comissão. O objetivo final é criar um grupo de instituições no qual os investidores terão total segurança em aplicar seus fundos, sem com isso conviverem com o fantasma da fraude.
Apesar dos problemas gerados pela Ginko, Bloomfield acredita que é possível aprender algo positivo com o incidente, apesar de que ache remota a intervenção de regulamentações do mundo real. "Estou realmente esperançoso para que a regulamentação do mundo real não venha ao Second Life, porque acredito que ele próprio pode criar um cenário de austeridade em seu mercado financeiro. Se as autoridades do mundo real ou da Linden Lab começarem a monitorar radicalmente as operações financeiras, estarão indo de encontro à regra principal do Second Life, que é a inovação e a criatividade pela qual os usuários podem originar seus próprios conceitos de organização mercadológica, livre dos problemas que ocorrem diariamente no mundo em que, de fato, habitamos. Quem sabe, até, apontar soluções para o mundo real? Tudo é possível.", conclui.
Escrito por Bryan Gardiner, do Wired.com
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
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